E,
no meio de tantas mudanças, muitas rupturas. Algumas coisas
foram encaminhadas pro novo destino, outras se perderam
irremediavelmente. O que sobrou posso contar nos dedos,
antes eu mal conseguia fechar as gavetas tão abarrotadas de coisas,
pessoas, lembranças. Mas o que houve afinal, além de um
processo íntimo, pessoal, intransferível? Uma mudança
externa também, porque há sempre um desconforto em quem se acostuma com
o nosso comportamento mais antigo.E além de lidar
com o luto da morte do que éramos, ainda o estranhamento dos que não
aceitam o que nos tornamos. Porque mudam os
gostos, a disposição e os planos. E alguns reagem
como se você os tivesse abandonado no meio de uma viagem a dois por
outro continente, quando só você sabia falar a língua local mesmo que
os impedisse de aprender o idioma .E, no meio de tantas mudanças, algumas desavenças. Só
porque aqueles mesmos não entendem, não entendem, não entendem, porque
não querem aceitar, que tudo é tão dinâmico e que nem deve ter sido tão
brusca essa mudança, mas que a coisa maturou durante um tempo em que
só queriam que você se envolvesse numa história DELES, que se
misturasse nas emoções DELES, que traduzisse o mais íntimo DELES.E, ao
mesmo tempo, você estava amadurecendo uma mudança sua e a coisa toda
doía, doía.
Mas eles não perceberam. Porque
a demanda sobre a vaidade deles era grande demais, importante demais,
imprescindível demais pra sua poesia. E, de repente, a minha poesia não queria falar mais sobre nada disso.
Minha poesia queria ser uma carta anônima, um silêncio, uma
brincadeira. Minha poesia não queria ser nada além de uma
frase jogada do mais íntimo de uma iluminação sobre um determinado
assunto.Porque, no final das contas, o que escrevo nem é poesia... é prosa, é
carta, é desabafo, é qualquer coisa.
É um bilhete
manuscrito pregado no espelho só pra desejar Bom dia !
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